Carta ao Facebook

MyLife, 24 de setembro de 2011

Querido Facebook,

Sim, eu sei que já falei com você algumas vezes hoje, mas preciso lhe falar sobre certas coisas que me atormentam e preocupam no nosso relacionamento. Eu realmente preciso falar com você. Sim, eu sei... estamos juntos tem algum tempo...Nos conhecemos quando quase ninguém sabia da sua existência. Naquela época você só tinha a mim, e eu tinha o orkut e mais um monte de amigos que me ligavam, e saíam comigo. Agora vejo que você tem quase todos os meus amigos, inimigos, parentes, conhecidos, desconhecidos e até famosos que eu admiro! Meu Deus, as empresas que eu vejo nas ruas estão com você! Isso tudo está se tornando assustador para mim...

Ah Facebook, este relacionamento está complicado demais. Estou confusa! Não tenho certeza se devo deixá-lo, porque ao mesmo tempo que sinto que você está tirando a minha privacidade, me vejo isolada do mundo sem você. Sim, porque já faz tempo que os meus amigos pararam de usar o telefone. O que eu recebo são cutucadas, mensagens. Os amigos deixaram de sentir saudades da minha voz, de me ver, porque você tem vídeos e muitas fotos minhas. Não consigo me livrar de você... parece que se nos afastarmos, perderei totalmente o contato com o mundo, e por sua causa! Porque ninguém mais fala comigo se não for por você, de você! Oh Céus, eu deixei o Orkut pelo nosso relacionamento! Porque você me completava e eu sentia que não precisaria de mais nada. Veja só como você me trata agora...

Como se não bastasse ter roubado minha vida, meus amigos... insiste em me mostrar o que eu não quero ver, imagens, recados, novidades que eu não quero e não preciso saber! Hoje eu abri o meu perfil, você estava lá dizendo "no que você está pensando agora?", e eu não gostei disso. Olhe, já ouvi falar de muitos relacionamentos que acabaram assim... Há pessoas que não se contentam em ter o relacionamento, elas querem a vida do outro! Querem saber onde estão, com quem estão, o ar que respiram... Cara, é o seguinte: você não é meu dono!

Ei Facebook! Você pode saber muito sobre a minha vida, saber quantos amigos eu tenho, os lugares que eu frequento, os programas que eu assisto, as atividades que eu pratico, onde eu moro, onde nasci, a minha idade, meu nome, meu telefone, onde trabalhei, onde estudei, as línguas que falo... você pode conhecer minha família, meus melhores amigos, controlar a minha imagem, sair por aí espalhando pros meus amigos tudo o que eu digo, e as fotos que eu gosto de fazer... mas quer saber? Deixa os meus pensamentos, que pelo menos deles, cuido eu!

Sem mais, espero que você me entenda. Preciso de um tempo pra mim.

Beijos carinhosos da sempre sua

Thaís Salim

Eu só quero andar na chuva!

O trabalho corroeu todas as minhas energias. Tudo o que eu conseguia pensar era que precisava chegar em casa, tomar um banho, deitar e dormir pra sempre até amanhã. Comecei a lembrar de como era a vida algumas semanas atrás, quando tudo o que eu conseguia pensar era em quanto tempo eu estava perdendo com coisa nenhuma. E todas as coisas que eu queria, eram coisas que agora não posso ter, por pura falta de tempo.

Provavelmente, é tudo bem melhor assim. Mas enquanto eu me perdia em toda essa crise existencial, uma chuvinha boba, fraca, começava a cair lá fora sem que eu me desse conta, por estar preocupada em me manter firme em um ponto, enquanto o motorista do ônibus parecia insistentemente tentar me derrubar, e as pessoas se esforçavam para pisar no meu pé. Em meio a tantas preocupações, saudades, lembranças... senti uma gotinha molhar meu rosto. Pensei: estou chorando? Meu deus, quanto tempo faz que não choro! Quantas lágrimas economizei nos últimos tempos! É que não há tempo no meu dia para tantas emoções. O tempo que me sobra é exatamente este, o tempo de voltar pra casa.

Logo notei que não estava chorando. A gota veio pela janela, como se o céu me chamasse a olhar algo fora de mim. Olhei e disse “o céu está chorando”. O céu, tão grande, ocupado em ser teto de um mundo inteiro 24 horas por dia, que só dorme pela metade, consegue tempo para chorar e eu não. A verdade é que não consigo mais chorar. E para onde foram todas aquelas lágrimas? Eu tinha tantas... Finalmente entendi! Elas foram todas para o céu! E o céu está chorando por mim!

Decidi que precisava molhar meu rosto com aquelas lágrimas. Desci do ônibus feliz da vida! Ainda nem era a minha parada, mas queria descer ali! Então senti o frio, coloquei as mãos nos bolsos e comecei a andar. Enquanto as outras pessoas corriam, tentando se abrigar, eu procurava o lugar mais exposto... Queria que aquela chuva me dissolvesse. Como o açúcar se desmancha na água, eu queria me desmanchar, e tirar de mim toda essa doçura que me faz tão tolerante. Não me desmanchei. Foi quando finalmente percebi que sou, na verdade, uma mistura de açúcar, sal, pimenta, pedras, cimento, areia e carne. Por isso, não há lágrima que tire de mim o que eu realmente sou. Todos me olhavam e diziam “louca! Queres adoecer?” Não, eu não quero adoecer, eu só quero me curar! Eu não quero ir pra casa agora... Eu só quero andar na chuva...

Felizes... enquanto durar o estoque!

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Já faz algum tempo, todos ouvimos falar do chinesinho que foi salvo do suicídio pelo beijo de uma desconhecida. Como em todos os contos de fadas com os quais estamos acostumados: um beijo, e o tão esperado final feliz... Mas de volta à realidade, de verdade verdadeira, nas nossas vidas depois do final feliz, ainda tem o começo da parte que pode não ser tão feliz assim. Nas historinhas de princesas com quais estamos acostumados, o final é “felizes para sempre”. Trazendo isso pra realidade podemos dizer algo como “felizes enquanto durar o estoque.”

Sem querer destruir corações e relacionamentos digo que, por experiência própria, o Príncipe Encantado pode a qualquer momento pegar o cavalo branco e fugir com a bruxa, por esta razão “sempre” é uma palavra complicada de se usar quando se faz referência a felicidade nos relacionamentos. A parte boa, é que dá pra ser muito feliz enquanto você não souber que amor da sua vida anda dando umas piscadelas enquanto você desenha coraçõezinhos com os seus nomes.

Eu sei que a Branca de Neve, A Bela Adormecida, A Pequena Sereia, entre outras princesas, ensinaram a mulherada a esperar o grande amor de suas vidas mais que tudo nesta vida, porque mesmo quando tudo indica que você está capacitada pra abrir uma loja de berrantes e resolve que é melhor trocar o coração por um fígado extra, ou uma cota maior de impressão na faculdade, tem sempre alguém pra dizer que “toda panela tem sua tampa”, ok é verdade, mas você pode ser uma frigideira, meu bem.

Caaaaalma, eu não estou dizendo que por ser uma frigideira, você vai passar o resto da vida sem uma tampa (até porque vai dizer que você nunca viu alguém pegar a tampa de uma panela desavisada e colocar na frigideira pra diminuir a fumaça?), o que eu tento explicar, não necessariamente consigo, é que nós enquanto pessoas iludidas por contos de fadas falidos, temos a mania de associar felicidade a ter alguém. Li em algum lugar da vida que seres humanos são tão egoístas, que não se contentam com as próprias vidas e querem a vida de mais alguém pra cuidar. A frigideira funciona muito bem sem tampa.

Façamos de conta que este é um blog de auto-ajuda e ... calma, não sai correndo ainda! Só precisamos entender que felicidade é algo mais individual do que parece, então enquanto sairmos por aí tentando achar a felicidade no status de relacionamento, o que vamos encontrar é só desilusões e aborrecimentos. Quanto aos contos de fadas, é só ir lá no Google e digitar “A verdade sobre os contos de fadas”, e vocês descobrirão através de vários textos muito interessantes, que até os contos de fadas não são tão felizes assim.

Antes que pessoas apaixonadas resolvam me xingar muito no twitter, aviso que eu não sou uma pessoa mal amada, e que eu acredito sim que existe amor ou coisa parecida nos relacionamentos, mas acredito de maneira realista, como um sentimento condicional e finito.

O tema dos contos de fadas foi sugerido pela @adrialalah , não sei se era exatamente isso que ela imaginava, hehe...